Quando a ansiedade passa a ser um problema?

A ansiedade

Coração palpitando antes de realizar uma prova, nervosismo em uma reunião importante ou mãos suando ao marcar um encontro romântico. Provavelmente em algum momento da sua vida você já sentiu algum desses sintomas. A ansiedade que experimentamos em algumas ocasiões é considerada normal e inclusive nos prepara para enfrentar algumas adversidades cotidianas. Trata-se de um mecanismo de defesa do organismo, que nos coloca em estado de alerta quando o cérebro acredita que estamos em perigo. Contudo, quando a ansiedade torna-se exacerbada e atrapalha várias áreas da vida, impedindo-nos de realizar algumas atividades, ela passa a ser patológica.

De acordo com o último mapeamento global de transtornos mentais realizado pela OMS, o Brasil possui a população com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo. 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica. De acordo com os especialistas, as dificuldades econômicas do país, a carga de trabalho diária exaustiva, a violência urbana, a falta de qualidade de vida e inseguranças quanto ao futuro trazem aos brasileiros sentimentos de medo, preocupação e angústia que, por consequência, geram ansiedade.

Alguns pesquisadores também atribuem as altas taxas de ansiedade patológica ao uso excessivo de computadores e celulares. Somos “bombardeados” diariamente por informações e conteúdos que estabelecem padrões e cobranças de como devemos ser e do que precisamos fazer. Como estes modelos são muito difíceis de serem atingidos, acabamos nos sentindo incapazes e ansiosos em demasia.

Alterações neurais no transtorno de ansiedade

A ansiedade envolve uma complexa rede entre várias regiões cerebrais diferentes e quem administra toda esta rede é uma estrutura denominada amígdala. Com formato de amêndoa e localizada próximo ao hipocampo, a amígdala determina se haverá ou não uma resposta de medo a determinado estímulo. Ao sinal de um perigo, a amígdala é ativada, engatilhando as respostas que precisamos para nosso sistema de luta e fuga serem ativados.

A amígdala funciona como um alarme, alterando nosso foco, frequência cardíaca, frequência respiratória e vários outros parâmetros para garantir uma resposta rápida frente à uma situação adversa.

Quando uma pessoa apresenta um quadro de transtorno de ansiedade, a amígdala é disparada em momentos que não necessariamente estão incorrendo em perigo de vida e podem, inclusive, ser pensamentos sobre problemas da vida cotidiana. A hiper-reação da amígdala acaba ativando também uma hiper-reação do núcleo parabraquial, que controla o movimento involuntário da nossa respiração, provocando uma desregulação da frequência respiratória (respiração ofegante). A amígdala hiper-reativa também aumenta a atividade do lócus cerúleos, um núcleo de neurônios que controla o sistema nervoso simpático.

Vários neurotransmissores também se encontram desregulados nesta conexão entre a amígdala e outras áreas, como o GABA e a serotonina.

O GABA é um dos neurotransmissores essenciais envolvidos na ansiedade e na ação ansiolítica de muitos fármacos. Ele é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, que normalmente desempenha um papel regulador na redução da atividade de numerosos neurônios. Os benzodiazepínicos, utilizados ​​para ajudar no tratamento da ansiedade, funcionam aumentando a eficiência dos neurotransmissores GABA, o que pode aumentar a sensação de relaxamento e calma.

A serotonina desempenha um papel importante na regulação do humor, sono, ansiedade e apetite. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina são um tipo de medicação antidepressiva, comumente utilizados para tratar depressão, ansiedade e transtorno do pânico.

Tratamento

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) apresenta grande eficácia no tratamento dos transtornos ansiosos, conforme apontam diversas pesquisas. Para a TCC, o modo pelo qual o indivíduo estrutura suas experiências determina o modo como ele se sente e se comporta.

Os indivíduos com transtornos de ansiedade possuem pensamentos automáticos que podem incluir previsões de perigo, falta de controle e incapacidade de lidar com ameaças, assim como distorções cognitivas.

Dentre as técnicas utilizadas pelo psicólogo cognitivo-comportamental estão: stroop emocional, psicoeducação, atribuição gradual de tarefas, identificação e modificação de crenças limitantes, relaxamento, treino respiratório, hierarquia de medo, relato das emoções, registro de pensamentos automáticos, treinamento de habilidades sociais, dessensibilização sistemática e reestruturação cognitiva.